O ano letivo nas escolas brasileiras começou com uma mudança radical. Os smartphones foram proibidos para quaisquer atividades não educativas, inclusive nos intervalos das aulas. Muitos acharam que a adaptação seria difícil, e uma parcela de estudantes e pais torceu o nariz. Houve protestos de todos os lados, e os professores e educadores ficaram na linha de frente para acalmar os ânimos e mostrar que o objetivo da restrição era melhorar o processo de aprendizagem. Agora, com o encerramento do primeiro ano letivo desplugado, o saldo parece positivo. Até quem foi contra no início passou a aceitar a medida — hoje, 80% dos responsáveis concordam que era preciso botar um freio nas telas. O resultado é visto dentro e fora da sala de aula: uma pesquisa realizada pela Frente Parlamentar Mista da Educação indica que 83% dos estudantes brasileiros têm prestado mais atenção aos conteúdos ministrados. Agora, muitos deles já se acostumaram com a restrição e nem levam mais os aparelhos para as escolas. Quem ainda carrega o smartphone se habituou a deixá-lo no armário, na mochila ou em um canto reservado para essa finalidade. Se houver necessidade de uso, há espaços dedicados estabelecidos pelos colégios. A decisão em solo brasileiro vai ao encontro de uma tendência global, com notáveis ganhos na formação. Um estudo nas escolas finlandesas, por exemplo, apontou aumento na concentração e na participação ativa dos alunos. No Reino Unido, onde as proibições começaram por iniciativa das próprias instituições de ensino, não por uma diretriz federal, as interações entre as crianças se ampliaram sem o desvio de atenção provocado pelos dispositivos. A Coreia do Sul anunciou medidas semelhantes em agosto e a Suécia deve proibir os aparelhos a partir do próximo ano letivo. Até nos Estados Unidos a discussão ganha corpo. Por lá, cada unidade da federação pode decidir suas regras e 35 estados já começam a implementar algum tipo de restrição. Na esteira dessas decisões, especialistas e autoridades avançam na discussão de que é imperativo limitar a entrada de menores de 14 anos nas redes sociais. O objetivo, segundo os defensores da proposta, é preservar o próprio bem-estar psíquico da nova geração. (*) André Sollitto, Editor de Geral na revista Veja e jornalista especializado em conteúdos de comportamento, lifestyle e automóveis.