Em novembro do ano passado, uma decisão judicial abalou os mais saudosistas corumbaenses, das gerações dos anos 60, 70 e 80 que embalaram nos bailes dourados do Riachuelo Futebol Clube – tempos da Disco Fank e Danceteria, ao som de uma das maiores bandas do Estado, a MJ6, ainda em evidência na cidade. A histórica sede do tradicional clube fundado em 1915, situada na rua Frei Mariano, era decretada utilidade pública em favor da Sanesul (Empresa de Saneamento de MS), para ampliação das instalações da ETA (Estação de Tratamento de Água) de Corumbá, construída ao lado na década de 1960. No local, a empresa projeta a modernização do sistema de abastecimento de água da cidade com a implantação da Estação de Tratamento de Resíduos. E mais: vai incorporar aos investimentos um memorial para homenagear e preservar a relevância histórica movida por 110 anos do prédio e do clube vermelho e branco. Em ruínas - A desapropriação do Riachuelo pegou a todos de surpresa, principalmente uma associação de professores de educação física que utilizava suas instalações para projetos sociais na área do esporte e, segundo foi alegado na época, pagava os impostos do imóvel. Abandonado nas últimas décadas, no entanto, a centenária sede do Riachuelo estava fadada a desaparecer, se tornar ruínas, por falta de manutenção e investimentos. Parte da cobertura do ginásio ruiu e os riscos de desabamento do prédio são iminentes. A aquisição pela Sanesul, digamos, antecipou uma situação irreversível: o imóvel fatalmente seria adquirido por terceiros, depois de vários leilões não concretizados por dívidas acumuladas e ajuizadas pela Justiça. Como acontece em Corumbá, porém, os impactos e frustrações das decisões negativas em desfavor da cidade e sua gente, como projetos suspensos, empresas fechadas, a paralisação do trem, prédios históricos destruídos, abalam momentaneamente e acabam esquecidos. Resgate - Não se fala mais na sede do Riachuelo e sua fama de agregar aqueles adolescentes em bailes celebrados pela atmosfera de nostalgia, rebeldia juvenil e, claro, muita música e dança. Houve reação de uma minoria, na época da desapropriação, alguns ex-diretores protestaram e resta o silêncio que releva o fato. A preocupação da Sanesul em perpetuar o legado de um clube que chegou a disputar o futebol profissional no início do século 21 traduz um compromisso que a cidade, muitas vezes, não tem. “O memorial será um espaço aberto ao público com o objetivo de preservar e divulgar a memória do clube”, disse o diretor-presidente Renato Marcílio da Silva. A proposta ainda está em construção, mas será executada no próximo ano. O memorial deve ocupar as antigas salas de diretoria, à direita do ginásio e das bilheterias. O acervo contará com troféus, mobiliário, objetos, fotografias, documentos e até ladrilhos hidráulicos restaurados...