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Adoecimento emocional cresce com pressão para ter a “família perfeita” das redes sociais

Com a proximidade das celebrações de fim de ano, que tradicionalmente reúnem parentes sob o mesmo teto, a reflexão sobre os laços familiares se expande. No Brasil, onde 49,1% dos lares são chefiados por mulheres, e quase um terço desses são compostos por mães solo, segundo o último Censo do IBGE, os arranjos domésticos se diversificaram, mas a pressão por um ideal inatingível permanece. 

Em contraponto ao estigma da “família perfeita”, propagado em comerciais e redes sociais, especialistas em saúde mental ressaltam o custo emocional dessa fantasia e defendem a aceitação dos conflitos como base para relações mais autênticas e saudáveis. Neste contexto, o Jornal Opção conversou com o psicólogo clínico e psicanalista Daniel Soares, conselheiro do Conselho Regional de Psicologia (CRP09), que desmonta a imagem idílica e analisa a família como um espaço vital, porém necessariamente marcado por falhas, desejos singulares e contradições.

Inicialmente, Daniel Soares parte de uma constatação para deslocar a visão romantizada. “Precisamos entender que a família é um fetiche”, afirma. Ele elabora: “Veja, se a maioria de nós luta para ter uma família de um ‘comercial de margarina’ então isso já prova que ela não é isso. Senão, eu não iria atrás de uma fantasia ideal para esperar que a minha família fosse assim, não é mesmo?”.

Consequentemente, segundo a psicanálise, a família é o principal meio de entrada do sujeito na cultura. “Pois quando nascemos, nós somos inseridos em uma família que já existe há décadas. Ela já tem os seus conjuntos de regras, de normas, de valores, de pensamentos. Nós, quando entramos nessa família, não temos direito a voto. A gente apenas entra e ocupa a cadeira que essa família nos proporcionou ter”, explica.

Psicólogo clínico e psicanalista Daniel Soares | Foto: Arquivo pessoal

Posteriormente, o trabalho terapêutico atua justamente nesse ponto. “A psicanálise entende que esse sujeito, ele fala desse lugar, desse conjunto de regras, desses valores, é desse lugar que esse sujeito fala. E a partir disso, ajudamos esse sujeito a construir um lugar próprio a ele. E não apenas continuar repetindo desse lugar que lhe foi dado”, detalha Soares. O objetivo é auxiliar o indivíduo a reconhecer que sua família, embora possa ser “incrível”, também tem falhas. “E que essas falhas, elas não podem ser ignoradas. Elas precisam ser trabalhadas para que essa pessoa consiga construir um outro lugar”, conclui.

Busca pela perfeição é uma fonte de adoecimento emocional

Naturalmente, essa busca incessante por uma completude inexistente gera graves consequências. “Sempre vai ser frustrante mesmo, porque família perfeita não existe. Isso não é possível ao ser humano. Toda família tem seus segredos, e nem todos os membros dessa família poderão ter acesso a eles”, adverte o psicanalista.

Além disso, ele pontua que “a família perfeita não tolera o desejo singular de cada um. Ela exige o silêncio”. Para ilustrar, ele cita exemplos: “Se você apanha do seu marido, ‘não conte a ninguém, porque isso acontece porque você não o tratou bem’. Se o seu filho usa drogas, ‘isso foi porque você não cuidou dele’, e assim por diante”.

Em síntese, a fantasia cria uma demanda insustentável. “A fantasia de completude exige que todos os membros dessa família encarnem funções sem falhas, sem faltas. O pai tem que ser sem fissuras, a mãe sempre disponível e amorosa, os filhos obedientes, o casal sem conflitos”.

No entanto, a realidade insiste em se impor. “E sempre que a fantasia é tratada como realidade, ela vai produzir sofrimento, justamente porque a castração insiste em aparecer, e ela não pode ser apagada”.

A inevitabilidade do conflito e o alívio da ansiedade

Diante disso, aceitar a inevitabilidade do conflito surge não como resignação, mas como um passo fundamental para a saúde mental. “Aceitar que não existe família sem conflito não é um convite ao conformismo, sabe? Mas pelo contrário, é reconhecer que por trás dessa mãe há uma mulher que também cansa, que também precisa de um tempo longe desses filhos para poder estar com esses filhos”, reflete Soares.

Do mesmo modo, é ver “por detrás desse pai, às vezes calado ou até mesmo alcoólatra em muitos casos, há um homem que tem medo, que não conseguiu vencer o vício, por exemplo”.

A chave, segundo a teoria lacaniana, está no reconhecimento mútuo das limitações. “Lacan nos informa que só podemos aceitar nossa castração quando reconhecermos essa castração no grande outro. Ou seja, eu só poderia aceitar a minha falta, a minha limitação, quando eu conseguia ver essa limitação nos membros da minha família”.

A partir desse ponto, uma nova posição subjetiva se torna possível. “Podemos olhar para os membros dessa mesma família de um novo lugar (…) não mais daquele queixoso que clama por um olhar, mas daquele que agora sabe que talvez aquele olhar que eu sempre clamei do meu pai, da minha mãe, talvez nunca virá mesmo”.

Como resultado, sintomas como a ansiedade, entendida como uma tentativa de controle para “não ver a falta no outro”, podem perder sua força destrutiva. “Essa ansiedade agora pode se tornar apenas um alerta para que eu lide com a minha limitação, e não mais a minha ruína”.

O impacto das redes sociais e a angústia do contraste

Em paralelo, o cenário contemporâneo agrava essa tensão através das redes sociais. “O impacto é devastador, ao meu ver”, avalia Daniel Soares. Ele fundamenta: “Lacan nos informa que o eu é construído de outros (…) e, na medida em que vamos envelhecendo, se não rompermos com isso, ainda continuamos em busca desse olhar, desses outros, para nos constituirmos”.

Para exemplificar, ele menciona a dinâmica das selfies: “Por isso que tiramos uma selfie e postamos, e, de imediato, queremos saber quem viu e o que esse que viu achou daquilo que ele viu, ou seja, um ser alienado ainda se guia pelo olhar da aprovação ou reprovação desse outro”.

Assim, o contraste entre a vida real e as curatas digitais gera um sofrimento profundo. “Agora imagine uma pessoa que tem uma família devastada, mas que ainda não consegue lidar com o real disso. Ele vai olhar para uma família harmonizada do outro e vai tentar encontrar nele a resposta do porquê o seu pai não o ama daquele jeito”.

Esse mecanismo contamina todos os membros. “A mãe vai olhar para o seu filho que não conseguiu ser o alamar da sua turma de honra, e ela vai exigir dele aquilo que talvez ele não tenha. O marido vai olhar para o colega que trocou de carro e vai pensar, eu não consigo porque tenho três filhos”.

Desse modo, conclui o analista, “esses membros dessa família estão todos banhados em angústia, pois eles foram atravessados por esses olhares que não conseguiram dar para eles um sentido de vida, mas um olhar que revelou apenas uma falta, um defeito”.

Ideal vs. real: A função da simbolização

Na sequência, Soares delimita os conceitos de ideal e real. “O ideal do eu é uma função simbólica, ele existe para não existir (…) Ele não é feito para ser realizado, ele é um horizonte, ele existe para nunca ser satisfeito”. Em outras palavras, é o “‘como minha mulher deveria me satisfazer, como meu pai deveria me amar, aquilo que eu deveria ser’”. Por outro lado, “o real é aquilo que é (…) porque ele rasga essa fantasia, ele nos retira da ilusão de controle, de onipotência”.

Diante desse paradoxo, a saída não está em eliminar o real – tarefa impossível – nem em viver preso ao ideal. “A grande importância não está no real, pois não podemos lidar com ele, e nem no ideal, que tanto imaginamos, mas na capacidade de dar uma saída simbólica a esse real”. Ele utiliza uma metáfora: “É como se você olhasse para o sol, isso iria queimar sua retina, então não faça isso. (…) Colocamos um óculos de sol, para poder filtrar esse sol, para que ele não seja devastador. Isso é simbolizar”.

Segundo Daniel Soares, a saúde da família depende dessa capacidade de filtrar e dar significado ao que é insuportavelmente real. “Sem isso, ou a gente vai ficar no imaginário do deveria ser, ou a gente vai ficar no real do insuportável (…) E aí, sempre estaremos em sofrimento”.

Lidando com a culpa e a inadequação parental

Diante de expectativas tão altas, a culpa é uma companheira frequente. “Essa culpa ela é fantasiosa, pois qual pai e mãe não vão errar com o filho? Só tem um jeito de você não traumatizar um filho, é não tendo um, né?”, provoca o psicólogo. Ele atribui parte desse peso a influências culturais, como a imagem da mãe imaculada no catolicismo. “Isso só coloca mais culpa e angústia nessa mulher que já tem tanta coisa para lidar (…). É muita perversidade de uma sociedade que exige a perfeição de seres que são imperfeitos”.

A saída proposta é uma releitura radical da felicidade familiar. “A família feliz não é aquela do vizinho onde a grama é sempre mais verde ou do comercial de margarina, mas é a minha família possível”. Trata-se de entender o que cada pai e mãe, em sua história singular, conseguiu doar.

“Se é que pode haver felicidade em uma família disfuncional, ela deveria começar delimitando onde não poderá haver felicidade, pois de quem eu espero, talvez isso nunca virá”. Esse é o savoir-faire lacaniano: “a habilidade inventiva de lidar com os sintomas dessa família. Transformando esse impasse, esse sofrimento em algo singular e criativo, transformando isso em uma nova forma de existir”.

O que realmente importa: amor, presença e função simbólica

Mas, afinal, o que é essencial para o desenvolvimento psíquico de uma criança, independentemente do modelo familiar? Soares retorna ao exemplo do bebê que chora. “Toda vez que essa mãe for até essa criança e interpretar esse choro, ela resolve dois problemas. Primeiro, ela sana a necessidade física (…). E segundo, que ela dá a sua presença”. Dessa interação nasce a segurança.

“O que importa para o bebê não é a fantasia de que os pais nunca errem, pois isso não é possível aos pais. (…) A criança e os pais nascem no mesmo dia”, ressalta. A figura idealizada da mãe infalível é, na verdade, um equívoco. “A mãe suficientemente boa é aquela que além da presença, também dá a sua falta”.

Nesse contexto, amor se traduz em ação complexa. “Quem ama dá limites, corrige, ensina, ampara, abraça, repreende. Bons pais são aqueles que ensinam a criança a desejar para além deles, e não apenas a viver dependente deles”.

“E sim, sem essa função simbólica, ou ficamos presos no imaginário (…) ou ficarmos presos no real, vivendo tal caos psicóticos (…). Então, é o simbólico que traz equilíbrio a essa família, a essa sociedade, pois sem ele, estamos literalmente perdidos”, reforça.

Em meio às luzes e expectativas do Natal e ao simbolismo do Dia da Família, Daniel Soares oferece um conselho que privilegia o real sobre o ideal. “As datas (…) sempre forçam o imaginário a uma fantasia de unidade perfeita, algo que não é possível. E elas também expõem justamente aquilo que falta, que se fraturou ao longo dos anos”. Portanto, forçar uma harmonia artificial só gera mais sofrimento.

“Se cada um puder estar presente nessa família à sua maneira, isso já é muito, pois talvez essa família já se constituiu assim e ela não pode ser de outra forma”. A proposta é uma mudança de interpretação: “Ao invés de interpretar essa falta que alguns familiares vão ter como uma indireta a mim (…), deve-se ler essa falta como parte da estrutura que é essa sua família”. Isso reduz a culpa e o rancor, abrindo espaço para “vínculos mais leves”.

Ele também ressalta a singularidade de cada membro, mesmo dentro de uma mesma casa. “A mesma mãe e o mesmo pai farão filhos diferentes (…) e está tudo bem eles serem assim”.

Além disso, Daniel Soares defende a autonomia como sinal de maturidade. “A presença em datas simbólicas (…) ela não deve ser uma obrigação, mas uma escolha (…). E isso é um sinal de maturidade da parte desses membros da família, saberem respeitar como esse outro membro se porta diante dessa mesma família”.

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