Um dos maiores Carnavais do interior do país não perdeu seu reinado, porém, depois da pandemia uma parcela do público local se afastou dos barracões das escolas de samba e as dificuldades financeiras aumentaram para levar o samba no pé à General Rondon, onde ocorrem os desfiles em Corumbá. O apoio do setor público, que sustenta a festa, também não foi mais o mesmo. O evento realizado no final da tarde e noite de domingo pela Liesco (Liga Independente das Escolas de Samba de Corumbá), no Porto Geral, foi mais do que a largada do carnaval de 2026, uma tentativa da entidade de provocar o corumbaense, motivá-lo a prestigiar a reunião do samba com as dez escolas que desfilarão nos dias 15 e 16 de fevereiro e, a partir desse envolvimento, resgatar o interesse da cidade pelo que ela mais se identifica. “A pandemia fez com que uma parcela da população, principalmente as novas gerações, perdesse um pouco do interesse pelo nosso carnaval”, aponta o carnavalesco Zezinho Martines, presidente da Liesco. “Antes, mais de 60% dos corumbaenses eram envolvidos com os preparativos, participavam dos ensaios. Esse evento que estamos realizando marca o início do carnaval, mas, também, é um chamamento das comunidades para dentro das escolas”, diz. Calor humano - A restauração do interesse do corumbaense pela sua escola de samba será medida até fevereiro, quando acontece o carnaval. A resposta à iniciativa da Liesco, no entanto, pode ser interpretada como um bom recomeço. Mais de cinco mil pessoas compareceram à orla portuária, se acomodando no entorno da concha acústica, em frente ao casario, desde às 17h, sob uma temperatura de 33 graus. O samba rolou por cinco horas e animou o público. “Foi uma oportunidade de as escolas apresentarem seus sambas-enredos e chamar a atenção das comunidades, dizer para elas que o carnaval começou e precisamos do seu calor humano para motivar os barracões e levarmos o melhor para a avenida”, sustenta Zezinho Martinez. Foi uma tarde e noite de muita alegria, com o envolvimento total dos corumbaenses e turistas, incluindo os bolivianos que passeiam com frequência na cidade nos fins de semana em busca de lazer. As escolas de samba se apresentaram com a base de suas baterias, intérpretes, passistas, rainhas, alas-mirins e mestre-sala e porta-bandeira. O ritmo forte da percussão, o requebrado das mulatas e o alto consumo de cerveja deixaram o corumbaense em êxtase. Verba - Mas, se por um lado a cidade parece acordar para a sua realidade carnavalesca, quem tem a responsabilidade de promover o melhor carnaval de rua do Estado enfrenta a falta de capital para planejar seu desfile. Para os carnavalescos, o efeito pandemia também mudou o comprometimento do poder público, que, gradativamente, não assume concretamente a festa e rediscute os repasses financeiros às agremiações atrelados a emendas parlamentares. A prefeitura de Corumbá garantiu R$ 600 mil às escolas de samba e mais R$ 204 mil aos blocos oficiais e cordões carnavalescos. Fez um repasse em novembro e finaliza o segundo em janeiro. O Governo do Estado sinalizou a liberação de R$ 1,1 milhão, mas recuou e deve anunciar o mesmo valor do ano passado: R$ 900 mil, incluindo emenda (R$ 500 mil) da senadora Soraya Thronicke. O repasse da primeira parcela, prometido para 15 de dezembro, ainda não foi feito. “A comunidade está voltando, essa reunião no porto é uma prova, mas a parte financeira está pegando”, comenta Maurício César (Xixo), presidente da escola Major Gama. As agremiações já fizeram a compra do material usado para montagem do enredo e fantasias, em São Paulo, e os trabalhos nos barracões seguem com o dinheiro emprestado de terceiros pela Liesco. “Vamos fazer o melhor carnaval, os ensaios começam dia 3 de janeiro”, se anima o carnavalesco.