Alunas da rede pública desenvolvem corante natural a partir de microalgas
Inovação faz parte do Programa Futuras Cientistas, que estimula participação feminina na ciência
A ciência transformou a vida de três estudantes de escolas públicas baianas para sempre. Através do Programa Futuras Cientistas, iniciativa do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), as jovens Diane Beatriz, 16, Bianca Cruz, 17, e Maisa de Jesus, 17, têm a certeza de que podem e têm talento para seguir o sonho de infância: ser cientista. O trio está desenvolvendo pigmentos à base de microalgas, com auxílio de professores em laboratório. Trata-se da transformação de uma fonte natural em produto sustentável.
O projeto é um desafio, visto que a maioria dos pigmentos é baseada em fonte de matéria-prima não renovável, ressalta o professor das aulas em laboratório e gerente de Educação e Tecnologia, Fernando Moutinho. O sonho se torna realidade na Escola Sesi Djalma Pessoa, em Piatã, que participa do programa federal. O objetivo é estimular a participação de estudantes e professoras nas áreas de Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática.
A duração é de um mês e funciona como programa de férias. Ao final, participantes da edição do Programa Futuras Cientistas de todo Brasil se reúnem em um congresso on-line para compartilhar os trabalhos finais.
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Alunas têm aulas práticas em laboratório de segunda a quinta no turno matutino (Foto: Arisson Marinho / CORREIO) |
A estudante Diane Beatriz, 16, lembra que se inscreveu no programa por incentivo de uma professora que já sabia do interesse da jovem em ciências da natureza. Por ter boas notas e atender aos requisitos do edital, ela foi chamada para a imersão científica. “Quando eu era criança, ser pesquisadora era algo que eu via como algo distante, mas ainda tinha esperança. Aqui é um ‘gostinho’ do que quero”, afirma.
Esta é a primeira vez que as meninas entram em um laboratório e têm contato com a pesquisa científica. “Aqui tem vários laboratórios, têm um andar só para laboratório. Na minha escola não tem nenhum. Não tem nem material. Apesar de ter ótimos professores no colégio público, a estrutura nunca colaborou”, lamenta.
“Se todas as escolas tivessem a estrutura que essa tem, teríamos muito mais talentos, a ciência teria muito mais descobertas”, afirma Diane.
Aprendizado
Ao lidar diretamente com práticas de laboratório, como manuseio de balança, e estudo da biotecnologia para a produção dos pigmentos, a estudante Maisa de Jesus, 17, diz que aprendeu conteúdos que antes só via na teoria dentro da sala de aula. “Eu gosto de química, mas não sou muito boa. Aqui eu consigo entender melhor que no colégio”, declara.
Além das atividades práticas em laboratório, o trio participa de debates sobre mulheres na ciência. A professora de história Fabiane Lima inclui debates sobre feminismo e antirracismo, além de apresentar o trabalho de mulheres cientistas para as alunas.
Para Bianca Cruz, 17, entrar no Sesi expandiu a visão de educação. “No colégio público sempre tem professor que nos impulsiona, mas tem também aquele que nos diminui. Aqui nos preparam para o mercado de trabalho. Mas lá nos preparam para a sobrevivência, não acreditam no nosso potencial de ser médico, engenheiro”, desabafa.
O programa é realizado em todo país, e a Escola Sesi Djalma Pessoa é a única escola de ensino privado do Brasil a participar da iniciativa. Instituições como a Universidade Federal da Bahia (Ufba), Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Bahia (Ifba) e Universidade Federal do Oeste da Bahia (Ufob) também participam do Edital Futuras Cientistas. Em geral, são de cinco a seis vagas disponibilizadas para cada entidade.
*Com orientação da subchefe de reportagem Monique Lôbo