Essequibo é da Venezuela, mas América do Sul não precisa de guerra
"Diante desse quadro de disputa entre vizinhos, é natural que o Brasil seja chamado a atuar como mediador. Lula disse que a América Latina é uma região de paz e pediu bom senso"
Merece cuidadosa atenção de todos a importante escalada da demanda venezuelana pela região de Essequibo, na vizinha Guiana.
A reivindicação, que a Venezuela vem postulando desde o século 19, avançou na semana passada, após um plebiscito entre a população venezuelana apurar 95% de apoio à anexação de Essequibo ao país.
Logo, o governo do presidente constitucional Nicolás Maduro anunciou que Essequibo, agora denominada de Guayana Esequiba, era venezuelana, nomeou um governador militar e exibiu um mapa com a região incorporada ao território da Venezuela.
A área tem 150 mil quilômetros quadrados, com riquezas minerais em que se destacam vastas reservas de petróleo.
A disputa decorre diretamente da ação imperialista e colonial no continente. Desde 1841, há 182 anos, portanto, a Venezuela denuncia a incursão ilegal do império britânico em seu território, surrupiando exatamente Essequibo para a Guiana.
Nesse período, em gestões sempre pacíficas, a Venezuela vem tentando negociar pacificamente a devolução da região, cuja área supera a de países como a Inglaterra.
Não poderia um governo revolucionário, nacionalista e democrático como o do presidente Nicolas Maduro, deixar de seguir o que já fizera Hugo Chavez. Ambos deram curso às aspirações já ancestrais dos venezuelanos. Ainda mais diante das seguidas omissões e procrastinações de tribunais e mediadores para implementar os reclamos de um país que foi espoliado de parte de sua terra.
Contribui para o aumento das tensões o avanço evidente da presença na Guiana de tropas e instalações militares estadunidenses sob ordens do famigerado South Command. Estão ali para garantir operações suspeitas da ExxonMobil que realiza a extração do óleo de imensas jazidas localizadas em grandes áreas adjacentes da costa que a Venezuela afirma serem suas. Washington tem um histórico de intervenções imperialistas na região e contra a Venezuela em particular, o que inclui sanções, bloqueios, roubos de ativos e tentativas de invasão.
A posição da Venezuela expressa um interesse que unifica a opinião pública do país. Até mesmo a principal figura da oposição, Maria Corina Machado, apoiou a consulta e pediu voto favorável à incorporação de Essequibo.
Além de abrir uma negociação direta com a Guiana, a ação venezuelana, como a da Rússia na Ucrânia, desfere outro duro golpe na ordem unipolar pretendida pelos Estados Unidos.
Diante desse quadro de disputa entre vizinhos, é natural que o Brasil seja chamado a atuar como mediador. Em conversas com a liderança venezuelana e guianense, o presidente Lula disse que a América Latina é uma região de paz e pediu bom senso. Na próxima quinta-feira, os presidentes de Venezuela e Guiana se reúnem pessoalmente e o Brasil está convidado.
A existência da reunião já é uma vitória de Caracas, ignorada até agora. Será a oportunidade de iniciar uma negociação substantiva. Ademais, sem a influência dos Estados Unidos e que mantenha a América Latina como uma zona de paz.