Banditismo na política
Convém lembrar que banditismo na política não entra no rol de um elenco de pesos e contrapesos típicos das democracias ocidentais
Em O espírito das leis, Montesquieu, sobre os conflitos humanos, expôs como a sociedades, ao longo do tempo, definiu critérios e soluções até chegar ao sistema judicial e abandonar os duelos e ajustes de contas. Hoje, pensa-se num tribunal penal internacional para avaliar comportamentos de dirigentes e, se for possível, puni-los. A África do Sul acabou de entrar com um pedido de sansões contra Israel pelo crime de genocídio contra os palestinos. O mesmo Israel, criador do Mossad, sua violenta polícia secreta, em muitos aspectos lembrando a GESTAPO, acaba de anunciar, por via de seu comandante, a disposição de caçar e matar (isso mesmo, matar), onde estiverem os líderes palestinos que lutam contra a sua dominação. No Irã, durante um funeral, já executaram dezenas de pessoas em defesa de uma segurança que, com efeito, nunca será realmente atingida. Segue, no percurso, o modelo da CIA, responsável, além de muitas ações criminosas, pela explosão do Nord Stream, o gasoduto que se construía para fornecer gás russo aos alemães.
Banditismo na política sempre existiu, dirão alguns. É, mas, sem o aval cínico das autoridades ou da moral constituídas. No Brasil, em proporções menores, acabamos de tomar conhecimento dos planos, no 8 de janeiro de 2023, para prender e enforcar em praça pública o ministro Alexandre de Moraes, pelas medidas que tomava à testa do Tribunal Superior Eleitoral. Seus movimentos vinham sendo seguidos pela ABIN por ordem de seu então presidente, o atual deputado Ramalho, com o beneplácito do Palácio do Planalto à época. A armação gorou, como sabemos, devendo aos responsáveis punição exemplar. Há quem diga ainda que o próprio Presidente Lula representa alvo a ser eliminado... De fato, todo cuidado é pouco, porque a ousadia dos bandidos na esfera da política, tipo Mossad ou CIA, já se fizeram conhecer cada vez que se mostram contrariados.
Princípios da democracia, com o equilíbrio dos poderes e organizações internacionais para enfrentar conflitos, como a ONU, foram imaginados para acabar com a arbitrariedade nas ações de Estado. Com ou sem órgãos de espionagem, que deveriam servir para obter informações e não para sair matando, não se concebeu que partidos políticos no poder, ali chegando pelos votos, agissem para se sustentar por meio de iniciativas de exceção. A força de tais métodos ao arrepio da lei só não escandaliza pelo caráter secreto do modo como cumprem com as suas obrigações. Mortos que aparecem aqui ou ali não são punidos pela falta de provas e declarações de testemunhos dando conta dos crimes praticados. Agentes entram e saem de territórios de nações amigas ou nem tanto, dispostos a cumprir determinações de cima e desfazer os fantasmas do que pode ou não vir a acontecer.
Convém lembrar que banditismo na política não entra no rol de um elenco de pesos e contrapesos típicos das democracias ocidentais. Seus integrantes existem fora dele, loucos atrás do prestígio que a própria administração lhes confere na sua ânsia de ocupar e não sair do poder. Observadores da História, mantendo-se atentos, não perdoam semelhantes práticas. O banditismo, sim, as admira e prestigia a violência das ousadias. O diretor do Mossad, depois de afirmar à imprensa que apertará o botão da matança onde localizar palestinos, não esconde o riso cínico. Cuidado com ele. Pode bater à porta de cidadãos respeitáveis e eliminá-los como se fossem moscas.