Vizinhas da soja e condomínio de luxo: pesquisa analisa impactos em aldeias
Pesquisa da UFGD (Universidade Federal da Grande Dourados) analisa os impactos socioambientais nas terras indígenas de Mato Grosso do Sul. Em Dourados, a pressão da produção de soja e o surgimento de loteamentos de alto padrão estão entre os principais aspectos encontrados nos limites das aldeias Jaguapiru e Bororó. Juntas, elas ocupam área de 3,5 mil hectares e abrigam 15 mil pessoas. De acordo com as observações iniciais do estudo, um dos efeitos da proximidade da monocultura da soja é a contaminação por agrotóxicos na água e no ar. A contaminação pela água pode estar acontecendo nos mananciais do Córrego Laranja Doce, mesma fonte utilizada pelos indígenas para beber, cozinhar, higienizar e produzir alimentos para subsistência. Pelo ar, as pessoas são contaminadas durante a pulverização da lavoura feita por aviões, ao lado das moradias. “Não existe zona de amortecimento para proteger uma área da outra”, alerta a pesquisadora Patrícia Ferreira. A pesquisadora também cita a desigualdade entre a infraestrutura para as pessoas residirem no loteamento de alto padrão e nas aldeias. Privado, o loteamento tem asfalto, energia elétrica, rede esgoto e água potável. A reserva indígena não tem asfalto e as condições são muito precárias para acesso à água e energia. Conforme o levantamento, o muro construído pelo condomínio alterou a dinâmica de circulação de pessoas da reserva para a cidade, impedindo a travessia no local. Em 2016, a área foi ocupada por indígenas. Pouco tempo após a retirada das famílias, foi construído o loteamento e erguido o muro. O professor Charlei Aparecido da Silva explica que são dois vieses diferentes para o uso da terra e que eles estão em situações desiguais. Um é o da produção e utiliza o máximo de tecnologia e de recursos financeiros. O outro é da moradia e da subsistência, mas sem aporte financeiro e governamental O estudo é sobre os impactos socioambientais nas terras indígenas da região de fronteira do conesul do Estado, especificamente nos municípios de Dourados, Antônio João e Amambai. A pesquisa, que segue até o final de 2023, tem financiamento da Fundect (Fundação de Apoio ao Desenvolvimento do Ensino, Ciência e Tecnologia) e da Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior).