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Mayrant Gallo: ‘O que um escritor tem de melhor é a sua liberdade’

Após um hiato de 8 anos, autor baiano lança a novela 'Verão do Incêndio'. Leia entrevista

O lançamento do livro Verão do Incêndio (Villa Olívia, 2023), no próximo dia 6 de maio, às 15 horas, no Blá Blá Blá Arte e Cultura, no Rio Vermelho, pegou os leitores de surpresa. É que o seu autor, o baiano Mayrant Gallo, 61 anos, mestre em letras e linguística, autor de O inédito de Kafka (Cosac & Naify, 2003), entre outros títulos, havia anunciado há alguns anos, e sem estardalhaço, a decisão de parar de escrever. Nessa entrevista, exclusiva para o Correio, conversamos sobre o mercado literário, a literatura contemporânea e suas novas configurações e, claro, sobre a criação dessa novela, que, produzida entre 2013 e 2017, mescla autobiografia e invenção.

  • A publicação desse livro é, de certo modo, inesperada, já que você falou, há alguns anos, sobre a determinação de parar de escrever. O que o levou a essa decisão?

Aconteceram algumas coisas. Uma delas foi o fato de que eu me decepcionei um pouco com o meio literário. Vivemos hoje um tempo em que os livros são feitos sob cartilha e há temas que nos são impostos. Se você não se vincula às tendências, aos modismos, você se anula como escritor. E o que um escritor tem de melhor é a sua liberdade. Não interessa se as pessoas vão gostar ou não, ele deve escrever sobre os temas que lhe são caros, aquilo que lhe interessa, manter as suas próprias escolhas. Outra coisa que pesou muito para mim foi a morte da minha esposa, Andréia Gallo (em 2015). Ela foi uma pessoa que me incentivou durante muito tempo, talvez eu nem tivesse me tornado escritor se não fosse por ela, porque ela acreditava mais em mim do que eu mesmo. Por fim, penso que perdi a capacidade de invenção. Isso me obriga a parar. Se não posso escrever algo que realmente seja uma diferença dentro daquilo que já escrevi, eu me questiono se é válido continuar.

  • Mas há alguns outros inéditos em suas gavetas, não? Livros já escritos como Verão do Incêndio, que foi produzido entre 2013 e 2017.

Sim. Já não sinto vontade de escrever algo novo, é certo, mas isso não significa que não vá publicar alguns outros inéditos que já foram escritos, que estão praticamente prontos, mas que pretendo seguir lapidando. Tem um livro de contos, por exemplo, que concorreu ao prêmio da Academia de Letras da Bahia, no qual mexo de vez em quando, mais uns três ou quatro livros de poemas, um romance em curso que, algum dia, poderá ser retomado. E mais uns dois de contos. Mas, aquele que eu gostaria de publicar mesmo é uma reunião de toda a minha poesia em volume único, a já publicada e a inédita. Talvez, mais adiante, eu banque essa edição com recursos próprios. Como não temos mercado para a poesia hoje no Brasil, creio que nenhum editor se interessaria. 

  • Verão do Incêndio é uma novela. Em sua opinião, o que torna esse gênero literário menos prestigiado do que o romance ou o conto na contemporaneidade?

Penso que temos uma tendência, já há alguns décadas, de julgar uma novela apenas pelo seu tamanho. Se é um conto muito longo, chamamos de novela, mas se é um romance muito curto também chamamos de novela. Alguns, por exemplo consideram Aura, de Carlos Fuentes, e O Alienista, de Machado de Assis, como novelas. Na verdade, esse gênero literário tem uma estruturação específica que parece estar um pouco esquecida pelos autores e pelos críticos. Nessa estrutura, os personagens não são esboçados como em um romance, muitas vezes são definidos por apenas um ou dois traços característicos, no máximo três. Os capítulos se sucedem com grande rapidez, diferentemente do romance, que tem um ritmo mais lento. E há um grande diferencial da novela, em relação ao romance e ao conto, que é o fato de a novela possuir um desfecho que chamamos de deus ex-machina, ou seja, um evento externo que interrompe subitamente a narrativa fazendo com que ela não se perpetue. Outra coisa é que a novela tende a se deter em temas mais banais, temas da vida cotidiana. Um dos maiores exemplos, na minha opinião, da interferência do deus ex-machina pode ser encontrado em A Mulher Leopardo, de Alberto Morávia, sobre dois casais em férias na África que se relacionam amorosamente entre si. Tudo acaba quando um dos parceiros cai de um barco por acidente e se afoga. Um evento banal, a morte, interrompe o fluxo dos acontecimentos, eis a ação do deus ex-machina. O que penso é que a mídia e os teóricos, talvez por relaxamento ou por preguiça, deixam a composição ou análise dessa estrutura de lado, ao classificar um livro, e optam apenas pela aferição do número de páginas, quando na verdade deveriam aferir a estrutura do texto.

  • Retomando a questão da cena literária contemporânea e as imposições de temas e modismos, como você descreve. Em sua opinião, teremos uma próxima geração de escritores temerosos, “adestrados”, seguidores de cartilhas?

Penso que não, que acontecerá o contrário. Teremos uma próxima geração que se levantará contra isso, que irá reagir e que colocará a literatura em seu devido lugar, em seu lugar verdadeiro, que é o da liberdade. Liberdade de tema, liberdade de forma. Os poucos livros que eu tenho lido ultimamente, de literatura brasileira, têm um texto muito jornalístico. E sabemos que são coisas bem diferentes, que o jornalismo não é literatura. O jornalismo quer comunicar, já a literatura quer ferir, quer afetar o leitor. André Gide, escritor francês, diz que a verdadeira história literária é aquela que transforma o leitor, que faz com que ele saia da leitura consciente de que é possível olhar o mundo por outro ângulo. Esse é o grande barato da literatura. Quando você lê Kafka, você se depara com um universo singular que o transforma para sempre. Essa tendência contemporânea de impor um tema, tratado de modo jornalístico por vários autores, é um equívoco. Não há ali, em um Paulo Coelho, por exemplo, a marca do artífice da linguagem e da estrutura, do artesão de palavras, não há literatura.

  • E há, ainda, os chamados “conselhos sensíveis”, a patrulhar e adequar os livros a uma linguagem politicamente correta, sem contar a demonização de alguns autores do passado. O que você pensa sobre isso?

Olha, eu acho que isso é desastroso. Literatura é visão de mundo. Quando escrevemos somos nós mesmos e, ao mesmo tempo, nos tornamos outras pessoas. Quando lemos, incorporamos às nossas vidas algumas experiências que nunca viveríamos, mas que poderemos experimentar por meio dos livros. Imagina um editor ditando se um tema é válido, se pode ser enfocado de determinado modo ou não? Onde fica a liberdade do autor? Se um escritor escreve um livro com um personagem nazista ou a biografia de um nazista, isso não faz dele um nazista. Céline, por exemplo, era considerado nazista, mas a obra dele é fantástica e eu, pessoalmente, prefiro que ela siga como foi escrita originalmente. O cara tem que ser um grande escritor, um grande artesão da palavra, para me capturar.  Eu li Dom Casmurro oito vezes, porque ele é incrível do jeito que é, do jeito que foi escrito por Machado de Assis. Eu só digo uma coisa: estamos vivendo hoje como no mundo de 1984 (romance de George Orwell publicado em 1949), em que as obras de Shakespeare eram limpas de tudo que não fosse considerado “útil”. Estão fazendo isso com os autores. Isso é bem triste.

  • O gaúcho Sérgio Faraco, que é um autor que você gosta muito, disse certa vez, que “cada história tem a sua própria história”. Qual a história da novela Verão do Incêndio? 

Eu morei numa ilha — a Ilha de Jaguanum, no Rio de Janeiro, especificamente na Praia da Estopa, que fica na Baía de Sepetiba, perto de Itacuruçá — e algumas memórias desse período, eu tinha em torno de 8 ou 9 anos, sempre me voltam, em sonhos, no dia a dia. Em 2013, uma cena específica voltou e pensei se, a partir dessa cena, conseguiria construir uma história, ainda que ela não tivesse começo, meio e fim precisos, ainda que fosse uma costura de pequenos textos, cenas poéticas que remeteriam a uma condição biográfica e, ao mesmo tempo, fruto da invenção do autor. Essa história tem um pouco de biografia e muito de invenção. Não é precisa, com começo, meio e fim nítidos. É formada por pequenos fragmentos. O objetivo é um registro poético.

  • Você se refere a uma cena específica da infância na ilha como gatilho para a criação. Qual memória está na origem desse livro?

A memória, a cena específica, foi um incêndio que houve na ilha. Era de madrugada, eu era criança, e de repente acordei porque todas as pessoas estavam na praia, tinham descido para a praia. Os homens tiveram que subir o morro para traçar com ferramentas, capinar com ferramentas, uma linha que fizesse com que o incêndio não encontrasse mais a vegetação e, consequentemente, não chegasse a atingir as casas. Aquilo foi uma coisa incrível, embora fosse algo terrível para os adultos, já que as casas corriam o risco de pegar fogo, algumas pessoas poderiam morrer. Mas, aos 9 anos, fiquei fascinado com aquela noite e ela foi uma das mais fantástica que eu vivi. Essa cena sempre me voltava e eu sonhava com ela de vez em quando. Foi o que me motivou a escrever.

  • No livro, o incêndio da memória se torna simbólico, um rito de passagem... 

Sim. Como ser humano, eu relembro aquela cena e como autor atribuo a ela um outro significado, um significado maior. Para o menino do livro, aquele momento, que foi de desespero, será a construção de  uma experiência sexual, amorosa, de vida e de amizade. Um ponto limite, a partir do qual ele se transforma em outra pessoa.

  • Verão do Incêndio se desdobraria em quatro partes. O que o levou a abandonar esse projeto inicial e optar por publicar apenas a novela?

Eu imaginei, de fato, um romance em quatro partes. A primeira seria Verão do Incêndio, a segunda seria uma continuação, a partir do momento em que ocorre uma mudança física no destino do protagonista. Mais ou menos como em Menino do Engenho e Doidinho, de José Lins do Rêgo. No caso do meu personagem, ele passaria a morar no continente. E haveria, ainda, uma terceira e uma quarta partes. Mas, como digo no posfácio do livro, eu fracassei nesse aspecto, não fui adiante, porque comecei a me repetir, e a pior coisa que pode acontecer a um autor é se repetir. Então tudo que havia, de anotações e de rascunhos, eu abandonei, foi jogado fora. Mas considero essa novela como um texto autônomo, não é um livro que se lê interessado no que vai acontecer depois, mas nos recortes poéticos que compõem uma vida.

  • Falamos no incêndio simbólico que, da cena real, salta para a ficção. A ilha, em seu livro, tem uma simbologia muito forte, pois encerra um microcosmos, com um cotidiano de idas e vindas que muda as vidas e o ritmo do lugar.

Do ponto de vista biográfico, foi um período em que as nossas vidas, a minha e as dos outros meninos e meninas da ilha, dividiam-se em dois tempos. De segunda a sexta, era uma coisa. Aos sábados e domingos, outra. Isso acontecia porque aquele era um local muito frequentado por turistas, sobretudo americanos e ingleses. Vivíamos a época da ditadura militar, havia uma interferência forte dos americanos no Brasil e eles tinham propriedades na ilha. Meu pai, por exemplo, administrava a propriedade de um desses turistas. Então, durante a semana, a nossa existência era específica, cotidiana, mais comum. Mas, quando os turistas chegavam, nas manhãs de sexta-feira, tudo ganhava mais colorido, havia uma mistura de línguas, ouvíamos o inglês, experimentávamos outros costumes, outros hábitos, que essas pessoas traziam pra gente. Aos domingos, tudo mudava novamente, a alegria ia embora e restava a expectativa da próxima sexta. 

  • Nesse sentido, também as estações do ano, especialmente o Inverno e o Verão, funcionariam em seu livro como mediadores do ritmo da existência na ilha...

Sim. Podemos dizer que o Inverno representaria uma  semana, de segunda a sexta, enquanto o verão simbolizaria os sábados e domingo, isso acontecia mesmo durante as chuvas, porque os turistas vinham e movimentavam a ilha do mesmo modo. Eu diria que nós vivíamos, então, essas micro estações dentro das estações, que funcionavam para todos os moradores da ilha como pequenos verões na semana.

  • Em Verão do Incêndio, estranhamente, todos os personagens têm um nome, menos o protagonista, que é referido já no começo pelo narrador como o “menino sem nome”. O que te fez escolher esse enfoque narrativo específico?

Um dos motivos é porque, embora eu escreva em terceira pessoa, trata-se de uma primeira pessoa disfarçada. Cortázar usava muito isso, a ponto de uma leitora observar que amava seus contos porque todos eram escritos em primeira pessoa, ao que ele respondeu que não, que ele escrevia em terceira pessoa, mas que ali havia uma primeira pessoa disfarçada. Uma vez que projetei naquele menino um pouco de mim, de quem eu fui, e dos meninos que eu conheci, considerei muito falso e traiçoeiro dar um nome a ele. Como se, tendo um nome, ele não reunisse todas essas pessoas. Sem nome, ele me parece mais ajustado a esse mosaico que eu construí.

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