Debaixo d'água: chuva deixa ruas alagadas e casas inundadas em bairros de Salvador
Previsão é de mais chuva até o fim de semana
Salvador amanheceu debaixo d'água nesta quarta-feira (3). Ruas alagaram, casas foram inundadas e os soteropolitanos voltaram a sofrer por causa da chuva. Em um intervalo de 12h, teve bairro que registrou 109.6mm no acumulado de precipitação. Para se ter ideia do problema, chuvas acima de 50mm já podem trazer algum tipo de transtorno, segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet). O que preocupa, afinal, de acordo com a Codesal, a água não vai parar de cair na capital até o fim de semana.
A previsão é terrível para Patrícia do Nascimento, auxiliar administrativa que mora na localidade do Alto do Coqueirinho, no bairro de Itapuã. Por lá, o acumulado foi de 109.2 mm em 12 horas e a água invadiu as ruas e também as residências de todos. Sozinha em casa durante a madrugada, mal conseguiu salvar os móveis por não ter como puxá-los para cima. Além de um rack, corre o risco de perder uma geladeira que ainda não teve coragem de ligar.
"Choveu muito, entrou água aqui e na casa dos meus vizinhos. Alagou tudo, minha geladeira ficou dentro d'água. O que pude salvar, eu salvei. Perdi meu rack, que inchou e não vai prestar mais. A geladeira, que não consegui levantar por estar sozinha, ainda nem liguei para ver se está funcionando porque ela ficou debaixo da água mesmo", conta Patrícia.
Ela diz ainda que o problema não é novo. Por várias vezes, a localidade do Alto do Coqueirinho ficou na mesma situação. Acionada, porém, a Codesal não realizou intervenções. "Isso tem 24 anos nessa situação, desde que eu moro aqui. Já chamamos eles [Codesal]. Vêm aqui, mas não fazem nada. Já perdi móvel, tive que aterrar a casa e construir barreiras pra água não entrar. Só nisso, já gastei muito mais que R$ 10 mil", estima Patrícia.
Patrícia teve casa inundada (Foto: Arisson Marinho/CORREIO) |
Procurada para responder sobre a situação e o histórico de chamados da comunidade do Alto do Coqueirinho, a assessoria da Codesal informou que recebeu as solicitações desta quarta-feira e enviou equipes até o local para avaliação.
A situação não ficou problemática apenas em Itapuã. No bairro de Pituaçu, onde mais choveu na capital com 109.6mm acumulados em 12 horas, sobrou problema. A sede da Associação de Amigos dos Autistas, que fica no bairro, foi inundada pela água. O prejuízo ao certo ainda não foi calculado, mas a água invadiu áreas com materiais escolares e danificou móveis. Ainda em Pituaçu, na Rua Araújo Bastos, um velho problema se repetiu.
"Alagou de com força como sempre. Mais cedo a água tomou toda a rua e dava até medo passar de carro que você não via se estava seguro. A sorte é que cessou e, apesar de parte ainda estar alagada, você consegue passar aqui com cuidado. Porém, é sempre um transtorno. Gente tendo que passar por dentro porque tem que trabalhar e correndo risco de pegar doença", reclama ele.
Na Boca Rio, que fecha a lista de locais com mais chuvas com 98.4mm em 12 horas, as ruas também alagaram e houve transtornos, principalmente, na orla. Canteiros ficaram cheios de água, estacionamentos alagados e o trânsito ficou lento, causando engarrafamentos. De acordo com a Codesal, a chuva registrada é resultado da atuação de um sistema de baixa pressão, que intensifica os ventos úmidos vindos do Oceano Atlântico.
Sem deslizamento, mas em alerta
Apesar dos alagamentos e casas inundadas, não houve ocorrências de deslizamentos na capital, uma das principais preocupações da defesa civil de Salvador. Sosthenes Macêdo, diretor geral da Codesal, explica que, mesmo com muita chuva descendo, as áreas mais atingidas não são caracterizadas pela existências de locais com tendências a deslizamentos.
"Não choveu tanto em locais com maior risco geológico e deslizamento de terra, o que mais chama nossa atenção. Os lugares com grandes acumulados pluviométricos, via de regra, são mais planos. Invariavelmente, na região norte, onde estão Itapuã, Pituaçu e Boca do Rio não tem tanto risco", afirma o diretor.
Sosthenes destaca, porém, que o acumulado de chuvas foi muito grande e deixa as equipes da Codesal em alerta. Cláudia Valéria, meteorologista do Inmet, aponta os motivos para que as equipes da defesa civil tenham aumentado o nível de atenção para os próximos dias. Segundo ela, a continuidade das chuvas faz os riscos aumentarem.
"Pontualmente, as chuvas vão voltar a ocorrer com volumes mais elevados na nossa previsão. E, quando a chuva é persistente, de dois até quatro dias seguidos, há uma grande absorção, o solo fica encharcado e os riscos de deslizamentos, já comuns em Salvador, aumentam", alerta.
Por isso, Sosthenes reforça a necessidade de que os moradores da capital também fiquem atentos e acionem a Codesal assim que notarem o risco de problemas na região em que moram.
"As pessoas precisam ficar atentas observando qualquer sinal de risco. São eles a ocorrência de fissura, rachaduras das casas, esgotamento de terra e inclinação de vegetal. Se ocorrer isso, precisam ligar para nós através do 199, sair de casa e aguardar a avaliação dos nossos agentes para verificar a segurança", ressalta o diretor.
Até às 19h05, a Codesal recebeu 162 chamadas. As três principais ocorrências foram solicitação para avaliação de imóvel alagado (66), ameaça de desabamento (29) e ameaça de deslizamento (19).
Veja a previsão para os próximos dias:
Quinta-feira (4)
Céu claro a parcialmente nublado com chuvas a qualquer hora do dia
Chance de chuva: 30%
Sexta-feira (5)
Céu claro a parcialmente nublado com chuvas a qualquer hora do dia
Chance de chuva: 20%
Sábado (6)
Céu nublado a parcialmente nublado com chuvas a qualquer hora do dia
Chance de chuva: 80%
Domingo (7)
Céu nublado a parcialmente nublado com chuvas a qualquer hora do dia
Chance de chuva: 80%