Rita Lee contou sua história nas canções, nos livros e até nas redes sociais
Cantora foi irreverente e sem papas na língua
Em 2012 Rita Lee anunciou que deixaria os palcos e assim o fez. Saiu de cena e da cidade de São Paulo, pois queria experimentar a “vida anônima” em um sítio no interior, cercada de verde e de animais. Até o cabelo ela parou de pintar, virando novamente uma inspiração para muita gente. Mas a retirada não significou sair da música, muito menos deixar de criar. “Deixar a música nunca”, disse Rita, que lançou no mesmo ano Reza, seu último álbum autoral.
No retiro e sempre ao lado de Roberto de Carvalho, ela escreveu o elogiado Rita Lee: Uma Autobiografia (2016), além de livros infantis; também lançou, em plena pandemia, o projeto Clássicos, com 36 remixes de canções suas com Roberto, sob a batuta do filho João Lee; e, claro, causou muito no Twitter, rede social que parece que foi criada pra ela. No dia 7 de março, Rita anunciou a parte II de sua história, batizada de Outra Autobiografia, prevista para ser lançada no próximo 22 de maio - dia de Santa Rita de Cássia.
“Quando decidi escrever Rita Lee: Uma Autobiografia (2016), o livro marcava, de certo modo, uma despedida da persona ritalee, aquela dos palcos, uma vez que tinha me aposentado dos shows. Achei que nada mais tão digno de nota pudesse acontecer em minha vidinha besta. Mas é aquela velha história: enquanto a gente faz planos e acha que sabe de alguma coisa, Deus dá uma risadinha sarcástica”, escreveu a cantora ao anunciar a novidade.
Com o mesmo estilo irreverente e envolvente das canções, ela contou sua história como ninguém contaria. Com muitos detalhes e sinceridade desconcertante, falou das paixões, dos altos e baixos, drogas, prisões, aborto e afins, conquistando público e crítica.
“Escrevi a biografia daquela ‘ritalee' de cabelos de fogo que saía em turnês - a de hoje está beirando os setentinha, deixou os cabelos brancos e acha a vida de dona de casa o maior barato. Envelhecer não é para maricas. Ainda me falta muita coisa a fazer”, disse, meio sério meio brincando, no melhor estilo Rita Lee.
Sobre a saída do grupo mutantes
“Minha saída do grupo aconteceu bem nos moldes de 'o noivo é o último a saber', no caso, a noiva. Depois de passar o dia fora, chego ao ensaio e me deparo com um clima tenso/denso. Era um tal de um desviar a cara pra lá, o outro olhar para o teto, firular instrumento e coisa e tal. Até que Arnaldo quebra o gelo, toma a palavra e me comunica, não nessas palavras, mas o sentido era o mesmo, que naquele velório o defunto era eu. 'A gente resolveu que a partir de agora você está fora dos Mutantes porque nós resolvemos seguir na linha progressiva-virtuose e você não tem calibre como instrumentista.' Uma escarrada na cara seria menos humilhante. Em vez de me atirar de joelhos chorando e peguei Danny (a cachorra) e adiós”...
Parceiro na arte e no amor
"O Gato, além de lindo, cheiroso e excelente guitarrista, também se mostrava exímio pianista. Amor à primeira tecla. Foi em cinco minutos que a gente fez Mania de Você. A gente tinha acabado de transar, ele pegou o violão e eu o caderninho e começamos: ‘Meu bem, você me dá água na boca/ Vestindo fantasias, tirando a roupa…. A gente estava em estado de graça".
Elis, o anjo da guarda
"Grávida na cadeia, salva por Elis Regina “Só pode ter sido manobra do meu Anjo da Guarda ter acontecido justamente no dia em que eu estava tendo um sangramento com cólicas insuportáveis (...) O perigo de aborto era real. Elis disse em alto e bom som ao delegado: ‘Se um médico não chegar em cinco minutos, você é que vai precisar de um cafezinho, porque eu vou convocar uma coletiva e denunciar o que está acontecendo aqui com minha amiga Rita Lee’”.
Elis Regina e Rita Lee (Foto: Reprodução) |
Musa do Panis et circenses
"O tropicalismo foi a semente mais genial que foi plantada na minha cabeça, viver aquilo de perto me ensinou a ser o que sou hoje, uma Joana d’Arc sessentona que não tem pudores em desfilar por quaisquer avenidas musicais... Gil sempre me tratou como ‘protegida’. Era um irmão mais velho que me mostrou um Brasil colorido que eu pouco conhecia. Foi com ele que aprendi que era proibido proibir".
Pitty, a filha que o rock lhe deu
"A primeira sensação que tive ao ver Pitty foi a mesma de quando vi Cássia Eller, uma menina bonita com voz forte e personalidade marcante. Um dia, eu estava dando uma zapeada... ‘O que é isso? Quem é essa menina? Deve ser gringa!’ E não era, cantava em português, bem pra caramba. Bonita, roupa bacana, uma super banda. Fiquei tão feliz, que falei: ‘Meu Deus! Essa menina já nasceu sabendo! Queria que vocês recebessem com o maior carinho a minha ‘filha’”.