Na lama: casas são invadidas por água e moradores perdem tudo em Tubarão
Comunidade São Gerônimo teve 20 famílias afetadas com perda de móveis e eletrodomésticos
Geladeira queimada, móveis destruídos, colchões e berços encharcados e um chão que se converteu em lama barrenta. Foi assim que amanheceu, nesta sexta-feira (12) a casa onde Deisiane da Silva, 30 anos, vive com sete filhos e o marido na Comunidade São Gerônimo, em Tubarão, no Subúrbio Ferroviário de Salvador.
O local, onde vivem cerca de 300 pessoas, foi invadido há um ano pelas famílias que não tinham onde morar e montaram barracos na área. Por se localizar no pé de uma montanha, a água que se acumula acaba transbordando para a área toda vez que chove forte. Dessa vez, porém, a situação foi ainda mais complicada.
"Parecia uma enxurrada, uma cachoeira que desaguava bem na minha casa. Queimou geladeira, quebrou televisão, encharcou os colchões e o lugar dos meninos dormirem. Precisei pedir a moça pra me ceder um quarto pra levar meus filhos. Lá não tem nada, só coloquei o colchão no chão pra todos conseguirem dormir fora daqui", fala Deisiane.
Além do material, a saúde das crianças é uma preocupação ainda maior para Deisiane, que precisou tirar as crianças de casa enquanto a chuva caía. "Um dos meus bebês ficou doente, com tanta água caindo e ele tomando chuva. Minha casa virou lama, o desespero foi muito grande com sete filhos para deixar seguros. Tô aqui pedindo a Deus que não seja nada demais e ele sare logo", fala ela.
Marizete caiu ao sair de casa por conta da enxurrada e torceu o braço (Foto: Paula Fróes/CORREIO) |
Claudenilta Santos, 35, também mora em São Gerônimo. Ela precisou sair de casa durante a noite com a filha nos braços para evitar uma tragédia maior. Agora, ela está de favor em um barraco emprestado por pessoas que vivem na comunidade e presenciaram a sua situação.
"Perdi sofá, geladeira, roupa, colchão. Não ficou nada, a água levou tudo. Um desespero muito grande, porque minha filha chorava e eu precisei sair pra salvar ela. As coisas que ficaram todas não prestam mais. Ficamos em um barraco que também molha, mas é menos que aqui", fala ela.
Assustada com a força da água no seu barraco, Marizete Ferreira, 62, correu para tentar se manter protegida. Na saída, porém, acabou caindo por conta do chão cheio de lama. Na queda, ela torceu o braço e precisou ser levada para uma UPA, onde recebeu atendimento médico. Além disso, a água afetou a estrutura do local onde Marizete mora, fazendo com que ela não possa retornar.
"Na hora, foi uma agonia que nem gosto de lembrar. Eu caí, o povo me socorreu e me levou na UPA. Precisou enfaixar meu braço e agora estou tendo que pensar em dormir a cada dia na casa de um amigo ou outro de favor. O desespero é muito grande, ver aquela água toda passar pelos barracos faz a gente chorar, mas nem dá tempo de sofrer, porque precisei me salvar antes", lamenta ela.
Situação repetida
Líder comunitária da São Gerônimo, Ana Márcia de Almeida afirma que os problemas, apesar de em menor proporção, já aconteceram antes. Por ser uma área no pé de um morro, a água escoa e se acumula onde estão os barracos. Ela afirma também que as famílias que estão por lá foram porque não tinham escolha e a ocupação irregular é a única forma que têm para ter uma casa. Por isso, Ana pede a assistência dos órgãos responsáveis.
Moradores perderam tudo após a lama e a água invadir suas casas (Foto: Paula Fróes/CORREIO) |
"Ninguém escolheu estar aqui, todos viemos porque precisamos de lugar para morar e a gente não tem. Porém, toda vez que chove a enxurrada acaba alagando a comunidade e, dessa vez, fez os moradores perderem tudo. São 20 famílias que foram prejudicadas e precisam da ajuda. Não temos saneamento e precisamos de ajuda dos órgãos, porque a situação é muito complicada. Falta um olhar mais humano para o que passamos na comunidade em toda chuva", reclama a líder comunitária.
A Defesa Civil de Salvador (Codesal) foi até o local para realizar vistorias ainda na manhã desta sexta-feira (12). Procurado pela reportagem, o órgão afirmou, em nota, ter avaliado, em conjunto com a Secretaria Municipal de Desenvolvimento e Urbanismo (Sedur) e a Secretaria de Manutenção da Cidade (Seman), a laje sobre o canal que desabou nesta quinta (11) e provocou escoriações leves em três pessoas. Além disso, a Codesal diz ter vistoriado também as casas vizinhas ao canal.
“Após avaliação estrutural, optou-se pela interdição de nove imóveis, sendo que nove famílias foram notificadas e encaminhadas ao cadastro social. A Sedur já iniciou a demolição das partes instáveis da laje”, completa a nota.