Os 15 jornais da Independência
Quinze jornais circularam na Bahia entre março de 1821, ou seja, três semanas após o levante de 10 de fevereiro que resultou na aclamação de uma Junta Provisória de Governo, e junho de 1823, às vésperas da rendição do General Madeira e a entrada triunfante do Exército Brasileiro pela Estrada das Boiadas. Catorze dessas publicações nasceram, na brecha da abolição da censura prévia, com o único objetivo de influenciar a opinião pública em torno do propósito de mudança do sistema de governo, alinhado ou não à Corte de Lisboa ou à Corte do Rio de Janeiro.
O Idade D’Ouro do Brasil, primeiro jornal baiano, foi a única publicação que não surgiu nesse contexto. Circulava regularmente desde 14 de maio de 1811, impresso na oficina tipográfica de Manoel Antônio da Silva Serva. Embora engajado na disputa de narrativas em torno da Independência ou não da Bahia, prevaleceu o seu posicionamento como jornal empresa, com ânimo de lucro, subvencionado por anúncios do comércio e outros negócios correlatos. Isso fez a diferença, na sua postura editorial menos beligerante em relação aos adversários; “uma folha morta”, assim rotulada no manifesto enviado às Cortes de Lisboa, em 10/06/1822, assinado por 1052 “constitucionais”. Avaliação de seus parceiros de ideologia que lhe cobravam um discurso mais belicoso.
Na vindita dos baianos contra os portugueses, após a vitória do 2 de julho, a tipografia da família Serva foi preservada, isso prova o acerto de sua postura empresarial. Dos 15 jornais que circularam no período referido, 13 foram impressos na oficina, apenas um na Tipografia Imperial e Nacional de Cachoeira, enviada por José Bonifácio para o Conselho Interino de Governo, constituído no Recôncavo em 25 de junho de 1822 e, excepcionalmente, um circulou como manuscrito, O Morcego, que o professor Luís Henrique Dias Tavares destacou na sua História da Bahia, como iniciativa de uma loja maçônica. Pregava a deposição da Junta Provisória de Governo e teria circulado em novembro de 1821.
Na relação da imprensa da Independência, chama a atenção a quantidade dos autodenominados constitucionalistas, sete deles, dentre os 15: Idade D’Ouro do Brasil, Semanário Cívico, Minerva Bahiense, Diário Constitucional, O Morcego, O Constitucional, Sentinella Bahiense, Analysador Constitucional, Baluarte Constitucional, Espreitador Constitucional, Idade de Ferro, Despertador dos Verdadeiros Constitucionais, A Abelha, A Voz da Verdade, O Independente Constitucional. Ser Constitucional, não estranhe leitor, era uma interpretação da Constituição (em curso no Porto) ao gosto e conveniência do redator.
Os jornais Diário Constitucional, O Constitucional e O Independente Constitucional, de oposição, representavam os senhores de engenho e comerciantes alinhados com a proposta de uma Constituição brasileira com Dom Pedro I como Imperador e as instâncias legislativa e judicial funcionando no país com autonomia. Os demais jornais ditos constitucionais, todos governistas, representavam basicamente comerciantes, militares e funcionários públicos; divergiam quanto às formas de governo, às vezes conflitantes, em função da natureza de seus negócios.
Uma corrente preconizava à total submissão à Corte de Lisboa, outra um alinhamento com a Corte instalada no Brasil, com ressalvas. As duas correntes, incomodadas com a concorrência, pregavam restrições ao comércio inglês. E toda a mídia da Independência defendia a manutenção da escravatura.
Nelson Cadena é publicitário e jornalista, escreve às quintas-feiras.