Série mostra lado "estourado" de Galvão Bueno, dando bronca em equipe
Vida profissional e pessoal do autor é contada em cinco episódios no Globoplay
"É tetraaaaaa! É tetraaaaaa!". A frase, de julho de 1994, já tem quase trinta anos, mas tem muito brasileiro que, mesmo tendo nascido muito depois, já está cansado de ouvi-la nos memes que circulam por aí e sabe muito bem quem é seu autor. "Sai que é sua, Taffarel!" é outra muito popular. "Quem é que soooobe?", grita o narrador, desesperado, querendo saber quem é que vai cabecear a bola e afastar o perigo de gol.
Ah, e ele é autor também do "Olha o que ele fez!", usado pela primeira vez em 1999, para descrever um lance espetacular de Ronaldinho Gaúcho. E até hoje, esse bordão é repetido. A frase também se tornou tão popular que batiza a série documental Galvão: Olha o Que Ele Fez, que estreia nesta quinta-feira (18) no Globoplay e conta a história pessoal e profissional do narrador esportivo mais conhecido do país, Galvão Bueno.
Em cinco episódios, a série dirigida por Sidney Garambone e Gustavo Gomes reúne mais de 50 entrevistas, com colegas de profissão, amigos, familiares, atletas e desavenças do melhor narrador esportivo brasileiro. Ou, para alguns, o pior narrador. Arnaldo Cezar Coelho, amigo e ex-colega de Galvão, recorre a uma velha frase para resumir os sentimos das pessoas sobre ele:
"Tem momentos que é ame-o, tem momentos que é deixe-o". (Arnaldo Cezar Coelho)
O próprio Galvão sabe de sua fama: "Reza a lenda que algumas pessoas têm medo de mim. Não consigo entender por que", diz o narrador no primeiro episódio da série, a que o CORREIO teve acesso. O diretor Gustavo Gomes não diz se isso é lenda ou verdade, mas tenta explicar por que razão Galvão tem fama de "estourado" nos bastidores: "Você não consegue estar no centro de uma cabine de narração de uma final de Copa, com 700 pessoas envolvidas na transmissão, sem ter personalidade forte, sem ser uma pessoa acostumada a receber o peso de falar para dezenas de milhões de pessoas".
Desavenças
E o melhor da série é que ela não tenta esconder as polêmicas que envolvem Galvão. A produção promoveu um encontro entre o narrador e o ex-jogador Zinho, que foi muito criticado pelo comunicador na Copa de 94. Zinho achou que Galvão exagerava nos comentários e os dois acabaram sem se falar por muito tempo. Na série, o narrador pede desculpas ao ex-atleta. Juca Kfouri, que já teve entreveros com ele, também dá um depoimento - aparentemente, sem mágoas, pelo que vimos no trailer.
Os diretores até tentaram realizar mais encontros com "inimigos" de Galvão, mas só Zinho topou. Felipão, o comentarista Renato Mauricio Prado - que brigou no ar com Galvão - e Nelson Piquet recusaram. Galvão topou encontrá-los, garante Gustavo. Mas, mesmo sem os encontros, as brigas são todas abordadas na série. Piquet, por exemplo, em uma imagem de arquivo, dos tempos em que ainda era piloto, diz:
"Não entende p... nenhuma! Odeio as besteiras que ele fala". (Piquet)
Há, claro, depoimentos elogiosos e esses, naturalmente, são maioria. "Ele é f... mesmo!", diz o ex-atacante Romário. "Mudou o status do narrador esportivo", afirma o colega Cléber Machado. "O maior narrador do país", assegura Mauro Naves, repórter. Mas a série passa longe de ser chapa-branca. E, por isso mesmo, é tão interessante.
Galvão visitou o Rose Bowl, onde o Brasil conquistou o tetra (divulgação) |
Em cenas dos bastidores, o narrador dá alguns chiliques, ruma um celular na mesa, solta palavrões e dá uma bronca daquelas nos colegas: "Ô, programação do Sportv: P... que pariu!", grita, com todas as letras. Nem a produção do documentário escapa: "Para de filmar esta m...!", ordena, berrando para a câmera. Talvez, assistindo a cenas como essa, Galvão entenda por que alguns têm medo dele.
O narrador foi à pré-estreia da série, que aconteceu no Rio de Janeiro nesta semana e teve a exibição do primeiro episódio. E foi só nesse dia que ele conheceu o resultado. "O que vemos nessa série é um Galvão sem filtros. E não precisou passar pela aprovação dele. Dissemos a ele que não poderia ser chapa-branca", assegura Gustavo.
Nem a família o poupa de críticas. O filho Cacá diz que o narrador se ausentava da vida escolar das crianças e a filha Letícia lembra que, quando ele ia à escola dela, era para "provar" aos colegas que seu pai era ele. E aquela ida era transformada num evento. Galvão reconhece sua ausência como pai e se emociona ao lembrar disso. Perdeu até o nascimento de um dos filhos, porque foi para a Copa da Argentina, em 1978. "Só o conheci quando já tinha 40 dias de nascido", lamenta o narrador.
A julgar pelo primeiro episódio, a série deve emocionar bastante nos próximos capítulos, afinal, como diz o diretor Gustavo Gomes, Galvão faz parte da memória coletiva dos brasileiros. E isso vai despertar em muita gente alguma nostalgia, com as boas lembranças das Copas de 94 e 2002 ou o momento mais triste da carreira de Galvão, que foi o dia da morte de Ayrton Senna, durante uma corrida narrada por ele. Os dois primeiros episódios serão disponibilizados nesta quinta-feira (18) e o demais, na semana que vem, dia 25.
Galvão encontrou Zinho, com quem teve desentendimento (divulgação) |