Filme mostra trajetória de candidatos LGBTQIA+
Documentário 'Corpolítica' tem produção do ator Marco Pigossi e estreia nesta quinta-feira (8)
O ator Marco Pigossi e o diretor Pedro Henrique França são amigos há muito tempo. Tinham vontade de realizar algum trabalho juntos, mas esperavam o momento certo, sem pressa. Em 2020, no meio da pandemia e às beiras das eleições municipais, souberam que, no pleito daquele ano, concorria um número recorde de candidatos LGBTQIA+.
Os dois, que são assumidamente gays, estavam convencidos de que finalmente haviam encontrado a ocasião ideal para pôr em prática um trabalho que os unisse. Pigossi, que hoje vive em Los Angeles, entrou como produtor e Pedro, que havia dirigido clipes de artistas como Liniker e Letrux, assumiu a direção.
Daí, surgiu o documentário Corpolítica, que trata da importância da representatividade LGBTQIA+ em cargos políticos. O filme, que estreia nesta quinta-feira nos cinemas brasileiros, retrata a campanha de quatro candidatos a vereadores que integram a comunidade LGBTQIA+: Andréa Bak e Monica Benicio, no Rio; e Erika Hilton e William De Lucca, em São Paulo.
Como era auge da pandemia e as viagens pelo país eram restritas, Pigossi e Pedro decidiram se concentrar apenas nas duas cidades, ainda que fosse desejo deles retratar outras regiões. Em seguida, realizaram um recorte e escolheram quatro candidatos que representassem diversidade dentro da comunidade LBTQIA+:
"Queríamos dar conta das quatro letrinhas principais [da sigla], então escolhemos Monica, uma lésbica; William, um homem gay; Andréa, uma bissexual e Érika, uma mulher trans", diz Pedro.
Eleitos
O diretor acrescenta que era importante também que houvesse, entre os escolhidos, candidatos que fossem eleitos: "Era importante que houvesse vitoriosos, porque seria triste e simbólico se todos saíssem derrotados. Já imaginávamos que Monica seria eleita e Érika já começava a despontar em um circuito pequeno. Ela é a surpresa do filme! Foi eleita deputada federal depois de ter sido eleita vereadora. É um fenômeno, uma popstar".
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Marco Pigossi produz o filme; Pedro produz e dirige (foto: Liz Dórea/divulgação) |
Embora o filme se concentre na candidatura dos quatro e em aspectos políticos, há um retrato também da vida pessoal e familiar dos personagens. Pedro diz que decidiu convidar as mães dos candidatos para darem depoimentos porque, assim, o filme teria mais emoção.
"Somos [Pedro e Pigossi] dois homens gays, conscientes de nossa existência e do nosso lugar enquanto LGBTQIA+. Se o filme ficasse só na política, não íamos conseguir tanta emoção e empatia", argumenta o diretor.
Além disso, Pedro acredita que a mídia costuma retratar com frequência pessoas LGBTQIA+ como solitárias ou vítimas de violência. Por isso, para ele, é importante mostrar famílias que acolheram bem essas pessoas. "Devemos entender que a política também pode ser lugar de afeto e de amor", diz o diretor.
Pigossi diz que os momentos em que as mães aparecem levam o filme para uma região mais "humana". "A arte tem a função de entrar no coração das pessoas. Por isso, quando mergulhamos nesses personagens do filme, é fundamental saber como foram criados, de onde vieram... e o que os fez buscarem ocupar esses espaços [na política]".
Pigossi, que hoje vive nos EUA e tem atuado em produções internacionais como a série Cidade Invisível, da Netflix, diz que, mesmo longe do Brasil, continua acompanhando a realidade nacional: "Os EUA não estão à frente do Brasil no sentido político. Nos EUA, tem supremacistas brancos e neofascistas! Temos que estar atentos em todos os lugares. Meu coração é do Brasil, sou do Brasil e meu objetivo é trabalhar no Brasil. Temos muita história pra contar e nossa cultura é muito rica".