A falta de Educação
Educação é, reconhecidamente, uma prioridade prioritária. Todos os políticos a proclamam, mas é preciso praticar. Creio que, na maioria dos casos, até existe a chamada vontade política, mas falta saber o que e como fazer.
No tempo de Washington Luís, governar era abrir estradas. Pois hoje ainda há governantes achando que investir em Educação é construir escolas, numa época em que a população infantil diminui... Há aí um contrassenso.
A pré-Escola tem sido universalizada, mas ainda não cumpre o seu papel. No Ensino Fundamental, arrisco-me a afirmar que, na grande maioria dos casos, a melhoria generalizada das notas no IDEB tem sido obtida com a redução da evasão e a correção da defasagem idade-ano. São ganhos de eficiência. Parabéns! Mas isto não representa melhoria da qualidade: faltam projetos pedagógicos para, aí sim, melhorar significativamente o processo de ensino-aprendizagem nos sistemas públicos de ensino, como mostra a grande discrepância verificada entre as notas das escolas de uma mesma rede. Uma amplitude desconcertante, que precisa ser corrigida o quanto antes. Há aqui muito espaço para ganhos marginais, embora a melhor nota seja ainda muito baixa.
Neste cenário, o fortalecimento das coordenações pedagógicas nas secretarias de Educação constitui uma necessidade imperiosa. É preciso criar condições para nivelar por cima, somente assim estaremos de fato avançando. E neste campo o país está com um atraso fenomenal: as crianças não são alfabetizadas na idade certa. O desastre – e o fracasso – começam a partir daí.
Deficiência básica no país é a formação de professores. Os nossos cursos de licenciatura ensinam tudo sobre as teorias educacionais, mas não fazem o mais importante: ensinar a ensinar. A prática de ensino hoje existente não passa de um simulacro. Didática e Pedagogia precisam predominar nas matrizes curriculares desses cursos. Esta é uma ação que se espera do governo federal. Antes disto, para a geração atual de professores, cursos de atualização e, sempre, educação continuada. São uma urgente necessidade, ante a velocidade com que as transformações estão acontecendo. Esta é uma missão para a União e para cada um dos estados.
Nos municípios, de cada R$ 4,00 ingressados R$ 1,00 vai para a Educação. Não é pouca coisa. Não se trata de falta de dinheiro, mas de alocação incorreta e inadequada. Muitos gestores até se comprazem por distribuir um décimo-quarto e até um décimo-quinto salário aos professores como forma de bater a meta da aplicação dos 25% obrigatórios na Educação, o que é um equívoco. Por sua vez, a reivindicação por aumento na remuneração dos professores é justa, mas, assegurado o piso salarial, é preciso vincular os aumentos adicionais aos resultados entregues em salas de aula.
A falta de terminalidade do Ensino Médio faz com que metade dos alunos que conclui o Ensino Fundamental interrompa aí o ciclo de estudos. Migram para o mercado de trabalho – onde inglês e TIC são indispensáveis – antes da hora e sem nenhum preparo. Os governos estaduais têm aqui sua grande responsabilidade.
Aliás, recentemente o Ministério da Educação suspendeu a implantação da reforma do Ensino Médio. O Novo Ensino Médio está sendo questionado antes de implantado. E não ouço as vozes dos movimentos pró-Educação que tanto batalharam e influíram na sua aprovação. Estavam equivocados? Pelo menos que venham a público explicar. Esta não é uma questão para ser tratada nos bastidores.
A Educação Técnica Profissional precisa ser bem mais valorizada. Sua integração com o ensino Médio, em tempo integral, devia tornar-se um axioma. Os jovens têm que sair da Educação Básica com conhecimento profissional de sua escolha, respondendo à sua vocação e ao seu interesse pessoal, de forma articulada com o mercado de trabalho.
O Brasil não pode continuar com esta falta de Educação.
Waldeck Ornélas é especialista em planejamento urbano-regional. Autor de Cidades e Municípios: gestão e planejamento.